O fim d'O Independente, que coisa trágica para alguns, que alívio para outros. Há quem diga que O Independente acabara à muito. "Assim que o Paulo Portas saiu" -diziam uns, "Assim que o Cavaquismo caiu!" -replicavam outros, entre outras barbaridades que por aí se disseram sobre o jornal, assim que se ouviu o ruído abrupto das máquinas que terminavam a sua última impressão. Inveja, digo eu. Ao Independente é associada constantemente a ideia, principalmente por algumas víboras da nossa praça, de que tudo não passava de um projecto político, conduzido por Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso, de fraca qualidade jornalística e deontológica. Mas, e a sua contribuição para a democracia portuguesa? Ninguém disso fala?
Reconheço que a maior motivação dos seus fundadores seria, talvez, mudar mentalidades e dar espaço a uma direita comprimida e marginalizada pelo golpe de estado de 25 de Abril de 1974. Mas será esse motivo menos nobre, do que qualquer outro motivo que leva à formação de um meio de comunicação social? A resposta só será negativa, se vocês, como grande parte da sociedade portuguesa, continuarem a viver com o complexo da direita, que se enraizou profundamente nas nossas mentalidades. Mesmo, abstraindo-nos deste factor a qualidade jornalística d'O Independente era inegável, controversa e provocante talvez, mas mesmo assim inegável. Se é verdade, que o jornal publicou conversas escutadas, ou boatos que ofenderam certas figuras públicas, em que difere isso dos jornais de hoje em dia? Basta ler o 24 horas! Não digo, que essa situação é aceitável, antes pelo contrário, acho que a reserva da intimidade da vida privada deveria ser mais protegida, e a sua violação mais severamente castigada, mas se O Independente é criticado tão voluntariosamente, porque não o são outros meios de comunicação???
O Independente fez História. Esse é um facto. Abriu caminho, para a afirmação de uma direita portuguesa, ainda que muito debilmente. Abriu caminho para a frontalidade jornalística, porque o diz que disse todos os jornais publicam, os contraditórios por todos os jornais são olvidados, mas só O Independente teve a coragem para o assumir publicamente. Irónico não é? A nossa sociedade continua, por mais estranho que pareça, a castigar mais os que fazem as coisas às claras, do que aqueles que envolvendo-se numa teia de mentiras e trafulhices camuflam a verdade, ou atiram areia para os olhos desatentos dos outros.
Igualmente "esquecidas", ficaram Constança Cunha e Sá e Inê Serra Lopes. O que tenho ouvido não lhes faz a miníma justiça. O trabalho dessas grandes jornalistas foi talvez mais difícil, do que possamos imaginar numa altura em que certa sociedade "dava" (ou seja queria) O Independente como morto. Talvez, tenham sido propositadamente olvidadas da memória colectiva, mesmo antes de o jornal encerrar... Com que objectivo? Pensem um bocadinho... tudo se resume ao momento da fundação do jornal, aos inimigos que criou, aos escândalos que denunciou, às invejas que semeou. Desde a sua formação, estava condenado. A saída de Portas foi, só um pretexto para os ataques e insinuações. Olhando para trás, algumas das notícias "infundadas", não nos parecem tão desprovidas de fundamento, pois não? E outras, essas o povo conhece, sabe e comenta, mas como toda a gente sabe, em Portugal não se pode provar nada.
E que não me venham com a história, de que O Independente estava constantemente a ser processado. Por amor de Deus, processar um jornal, mesmo ganhando o referido processo pela contrariedade objectiva do jornal, a alguma disposição legal, faz dos factos por ele publicados menos verdadeiros??? Esses "senhores", que processam os meios de comunicação a torto e a direito, fazem-no apenas na convicção de que dá um ar de inocente, não porque se sintam verdadeiramente inocentes, no meio da confusão toda que se gera à sua volta. E já diz a sabedoria popular: "Onde há fogo há fumo". Ora, voz do povo voz de Deus (na maioria dos casos, claro está). Mesmo que assim não fosse, que jornal não tem processos?
A seu tempo se fará justiça ao Independente, assim como a muitos outros aspectos injustamente denegridos, da nossa História, cultura, e sociedade. É essa a certeza, que a nós os inconformados, nos faz continuar.
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