Superior à nossa propensão para amar, só a nossa trágica queda para a desilusão. E ela é tão previsível, tão naturalmente inevitável, que só um animal sonhador pode acreditar que, desta vez, ela não terá lugar! Está na minha natureza confiar, o pior, é que está na natureza humana dos outros, trair, desiludir, magoar... E, mesmo sabendo desta fatalidade, continuo, uma vez após outra, caindo nas mesmas ilusões. Pode-se dizer então, que essa é a minha natureza - sina que me leva ingenuamente a acreditar, de cada vez que o sonho que as sensações e os pensamentos constroem se sobrepõe à triste e pálida versão da realidade, que tal como esses sonhos alados se desenham possíveis e eternos dentro de mim, também se projectam dessa forma no meu exterior.
Passo o tempo todo, lutando para não me prender, lutando para que consiga antecipadamente prever, à luz fria da minha distância, a hora certa e o momento certo para me afastar. Mas acabo, sempre, por me deixar agarrar. Agarrado à luz quente e traiçoeira da esperança, vou acreditando que consigo vencer todas as adversidades, e genuinamente dedicado a esse propósito, vou-me deixando enganar...
Sofro da ingenuidade que me é inerente, e por causa disso, levado a confiar na sinceridade do sentimento alheio, acabo por cair no abismo da desilusão. Gostava de passar de corpo a corpo, sem nunca sentir o frio da culpa que vem com a madrugada, sem nunca olhar para trás com arrependimento, sem nunca depositar a minha esperança numa qualquer alcova; aposta perdida na sua génese, traição que está por acontecer, dor que está por vir... Diminuindo o elemento de sonho no prazer, não buscando mais nada do que aquilo que o momento me traria, viveria certamente com menos percalços e desassossegos.
Mas não é assim que sou. E por muito que tente, de cada vez que fingir não me interessar, que fingir não me entregar, tentando viver como se nada pudesse penetrar na carapaça que ergo entre a minha alma e o mundo, para que tudo o que sinta, sinta por transladação, como se de um sentimento estranho se tratasse. Por muito que insista, nessa capacidade de sentir sem sentir, capacidade de um ser superior, que colhe os frutos que quer, sem o suor de os criar nem o risco que a tristeza de os perder acarreta, nunca vou conseguir mais do que a viver com a mera aparência de não ser, um ingénuo sonhador!
O que pensava nunca fazer, acabo por fazer. O que pensava que nunca me fizessem, acabam por me fazer. A mais esforçada e leal entrega é a que, por puro acaso ou amargo fado, acaba por se esfumar mais penosa e obscuramente, das mãos firmes que teimosamente a seguravam por fé na sua idealista vocação de eternidade. E essa é, a grande ironia da vida.
Mas apesar de tudo, a vida continua... E se o sonho traz desencanto, também nos dá a insana esperança, de que chegue um novo dia, que doirado de perpétua alegria faça valer a pena, cada tormento de viver com sentimento!
Fiquem com uma das melhores actuações ao vivo de sempre, adequada aos sentimentos soltos neste pequeno desabafo. É pena a qualidade nem se comparar com o DVD, mas dá para se ter uma ideia do nível destes monstros da música.
U2 - Walk on (live at boston)
Fotografia cedida por: Francisco Nobre
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3 comentários:
Já estou apaixonada, só por ler o que escreves... Talvez ainda não tenhas encontrado a pessoa certa
Isto, sim, é um ego do tamanho do Tejo!
O eco é que já não sei se será o mesmo...
E pensando bem, na vida a sério o ego é sempre inversamente proporcional ao eco (e o contrário tb), não achas?
Talvez o seja... De qualquer das maneiras, o meu ego é sempre diminuto e habitualmente imutável no que toca a circunstâncias exteriores.
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