segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Inconstância

Penso que citar o nome de Salazar e/ou tudo o que lhe esteja associado envolve hoje em dia muitos perigos. Não pelo ódio que ele provoca em muita gente, mas sim pela complexidade e dificuldade que representava a sua pessoa.
Ao contrário de outros ditadores Salazar não bajulava a multidão, não lhe agradecia, não se mostrava acessível.
Porquê perguntamos- nos nós, sendo ele um ditador, e como se sabe os ditadores têm uma enorme influência nas massas, procuram fingir que lhes dão importância, tentando- as cativar, fazendo- as professar as suas ideias.
Salazar não lhes dava a mínima importância e diz- nos porquê, pois “não posso adular o povo sem ir contra a minha consciência de que o Estado Novo, sendo embora um regime popular, não é todavia um governo de massas”, e ao povo apenas pedia “confiança absoluta mas serena, calma, sem entusiasmos exagerados nem desânimos depressivos”. Conhecida é também a sua frase proferida em 1938 que diz que “Não se pode, ao mesmo tempo, governar e encantar a multidão”.
Salazar sabia perfeitamente que os que o adoravam, não teriam qualquer problemas em criticá-lo. “Os que desejam aplaudir- me hoje hesitariam em desviar- se de mim se outra paixão se apoderasse deles?", disse certa vez a Christine Garnier. É a essência humana, a grande maioria dos homens serve o poder onde eles esteja, e os poderosos onde quer que os encontre.
Ele conhecia a mente humana, sabia que ela era volúvel, anda conforme a corrente. Tinha das pessoas e do povo a ideia de desleal e desumano, sabia também que “Os que vierem depois vão fazer diferente ou vão fazer o contrário e contra mim”.
Conhecia perfeitamente o seu destino, que depois desses anos todos iria ser criticado e recordado como ditador cruel e desumano, que estragou em país em nome de uma contenção orçamental usando também medidas repressivas para calar os mais críticos. Na sua opinião os homens bem como o poder são efémeros.
Sabia isto e muito mais e apesar disso governou estes anos todos. Certo dia terá dito: “Tenho 68 anos e sinto- me velho. Gostaria de abandonar a política”. No mínimo tudo isto é muito estranho. Isto dá- nos a ideia de que Salazar não passava dum cínico obcecado com o poder.
Mas não nos precipitemos.
A verdade é que quantos mais permanecia no poder, mais ele fazia parte de si. Penso que Salazar estava tão preso ao poder que lhe era impossível haver diferença entre ele e o poder, ele representava o Estado e vice- versa. Podemos concluir então que ele era o Estado.
Ora porquê esta frase, quando a sua saída da Presidência do Conselhos de Ministros se deu (teoricamente, pois já há alguns anos que estava acabado), com a sua morte?
Terá Salazar alguma vez pensado em demitir- se e entregar o governo do país a outro qualquer?
Salazar sabia que mais ninguém tinha capacidade para governar o país nos moldes que ele o fazia, numa ditadura, Marcelo Caetano também o sabia e por isso tentou suaviza-la mas isso não chegou como se viu.
Para Salazar era inquestionável que aquando da sua saída o país cairia no desgraçada que até á sua chegada tinha sido, e por isso procurava atrasa-la mantendo consigo os seus colaboradores, dando- lhes uma esperança que um dia poderiam comandar os destinos do país como até então ele tinha feito, com poder absoluto.
Evitava assim traições de que outros ditadores foram vítimas (nem Hitler escapou).
A mente huamana para ele é frágil e delicada, tem tendência a seguir as “modas”, as correntes humanas e cometer os maiores disparates, a esquecer o que por nós fizeram. A propósito disto recorda- nos o Evangelho onde se diz que “Em quatro dias secaram as flores, murcharam as palmas e os louros, calaram- se os hossanas e os vivas e até as gentes miraculadas não consta que tornassem a aparecer.”
Este texto é inspirado numa reportagem da revista "Magazine, grande informação" de Janeiro de 2006.

1 comentário:

Anónimo disse...

Era inquestionável que quando salazar saisse,
o pais ia cair na desgraca gracas às constantes
más politicas q no estado novo se tornou habito
apos 1945/50. Salazar era sem dúvida um grande
academico da sua epoca e resolveu alguns dos
graves erros provacados pela implacao da
republica mas depois da segunda guerra nao soube
reagir. Nao apostou na educacao, criou monopolios
que e uma enorme falha economica e ,pior do que
isso tudo, manteve se a forca no poder durante
mais 25anos. É obvio q resultou de uma sequencia
de factos historicos mas Salazar nesses 25 anos
comprometeu o pais e o seu povo a uma crise q so
recentemente se esta a conseguir resolver.