Estava muito ansioso por ir ver este filme, já que para além de ser o único filme sobre fado que se fez em muitos anos, estava largamente publicitado e contava com participações de fadistas que aprecio muito. Lamento muito dizer, que se foi com ansiedade e excitação que entrei na sala, foi com sentimentos de engano e repulsa que abandonei a sala no fim do filme (se é que se pode chamar de filme àquela construção artística de Carlos Saura).
As minhas críticas principais a este "fados", são três: a monotonia que se sente, dado o pouco movimento que consegue imprimir nas cenas, situação essa que poderia facilmente ser evitada se escolhesse cenários exteriores não estáticos(por exemplo as vistas, ruas e vielas das cidades da tradição -Lisboa, Porto e Coimbra) ou se introduzisse entre as músicas uma voz de narrador que desse a conhecer a história do fado ou introduzi-se as os fados que se iam cantar. A escolha de introduzir demasiadas cenas com música que já não é fado, com música de influência étnica das colónias e do Brasil, música que não passa de filha bastarda do fado e cai no encadeamento lógico do filme (que julguei que fosse quase cronológico) completamente desamparada; para além, claro está, que esta música nada acrescenta a um filme que se arrogava de transmitir e dar a conhecer o género musical do Fado e a sua história, pois é um corpo estranho, um corpo derivado disso mesmo, que se pretendia transmitir e que mesmo isso, mal transmitido ficou. As danças escolhidas, com o intuito anunciado de re-descobrirem o quase perdido Fado dançado, também falharam miseravelmente nesse objectivo! Os mais que conseguiram, foi nalguns raros casos em que eram menos modernas, imprimir beleza visual à espécie de vídeo-clip em que consistia cada cena. Mas, na maior parte das vezes, só serviam para nos mostrarem duas ou mais pessoas que, tanto podiam estar a dançar como a deambular por um hospício (maldita dança moderna).
Resumindo, depois de quem veio comigo ter adormecido no meu ombro, depois de ter realizado que o filme nada acrescenta a quem sabe o mínimo sobre o percurso sinuoso do fado e conhece os seus protagonistas, sendo deveras imperceptível para quem nem isso sabe, tenho de concluir que não vale de todo a pena o dinheiro que se paga para ver esse emaranhado confuso de cenas. Falta-lhe indubitavelmente, aquele sentimento castiço e popular, aquele sentimento profundo e que vem de dentro, sentimento que só pode ser transmitido por quem o tem. O que não é certamente o caso de um espanhol... A escolha da altura das carreiras de Amália Rodrigues e de Alfredo Marceneiro, também não foi feliz, nem sequer demonstrativa da incrível arte destes ícones do Fado. Nem as maravilhosas participações de Camané, Carlos do Carmo e Mariza (quando se deixa daquelas coisas cabo-verdianas) , ou a cena final, esta fantástica, da casa de fados e a bem conseguida mistura do Fado e do Flamenco, conseguem salvar o filme na sua globalidade!
quarta-feira, outubro 24, 2007
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2 comentários:
ja andava desconfiado das supostas raízes africanas e brasileiras do fado. Agora perdi o interesse em ir ver o filme.
Acredita que ninguém, mais do que eu estava entusiasmado com a possibilidade de ver um filme recente sobre o fado...mas enfim... A modernice não é sinónimo de qualidade .
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