Quero deixar-vos aqui, uma das maravilhosas novas vozes do meu querido fado. O seu nome é Joana Amendoeira e já lançou dois discos espantosos dentro deste género musical ou, como eu gosto de pensar, desta estranha forma de vida que é o fado.
Joana não procura inovar (ao contrário de muito, que na sua ânsia de cortar com o passado, acabam por se esquecer do que é o fado), mas apresenta uma frescura e uma doçura na sua voz, que só é possível em quem respeitando a tradição, em quem sente dentro de si a vertiginosa sucessão de toda uma história repleta de grandes fadistas, procura usar a sua voz para transmitir toda uma vivência profunda e sensível que lhe enche a alma. A sua interpretação, o seu reportório musical, e a sua entrega incondicional a cada verso que canta, fazem evocar as raízes castiças do fado; ouvindo-a desfiando-se em cantigas de uma simplicidade e sinceridade, que a mim me soa familiar, julgo lembrar-me de uma rapariga que canta da sua janela para a rua. Cantando para o tempo altivo que foge, sem saber que a estão a ouvir, acaba por nos cantar ao ouvido. Despretensiosa, sem procurar agradar ou seguir modas passageiras, canta-nos como se cantasse sozinha para si. Quando a ouvimos, julgamos ouvir a história da sua vida, o grito fundo dos seus sentimentos, tudo o que nela viveu e morreu! (Fotografia: Francisco Nobre)Num pequeno texto, Rui Vieira Nery, resumiu no seu primeiro disco a arte de Joana: "Joana Não vem com este disco fazer uma revolução. Chega com uma presença serena e encantadora, canta-nos e dá-nos a sensação de ser uma amiga que já conhecíamos e que gostámos de rever, como se houvesse já no Fado um lugar à sua espera. Não podia haver melhor começo."
Este é dos fados que mais me tocou, palavras que são como as minhas neste dia, no seu primeiro disco:
Testamento
À rapariga mais nova
do bairro mais velho e escuro
deixo os meus brincos lavrados
em cristal límpido e puro
E àquela virgem esquecida
sonhando alto uma lenda
deixo o meu vestido branco
todo tecido de renda
E este meu rosário antigo
de contas da cor dos céus
ofereço aquele amigo
que não acredita em Deus
E os livros rosários meus
das contas doutro sofrer
são para os homens humildes
que nunca souberam ler
Quanto aos meus poemas loucos
esses que são só de dor
e aqueles que são de esperança
são para ti meu amor
Para que tu possas um dia
com passos feitos de lua
oferecê-los às crianças
que encontras em cada rua
(Fado Menor do Porto, letra: Alda Lara)
À rapariga mais nova
do bairro mais velho e escuro
deixo os meus brincos lavrados
em cristal límpido e puro
E àquela virgem esquecida
sonhando alto uma lenda
deixo o meu vestido branco
todo tecido de renda
E este meu rosário antigo
de contas da cor dos céus
ofereço aquele amigo
que não acredita em Deus
E os livros rosários meus
das contas doutro sofrer
são para os homens humildes
que nunca souberam ler
Quanto aos meus poemas loucos
esses que são só de dor
e aqueles que são de esperança
são para ti meu amor
Para que tu possas um dia
com passos feitos de lua
oferecê-los às crianças
que encontras em cada rua
(Fado Menor do Porto, letra: Alda Lara)
Joana Amendoeira – Testamento
5 comentários:
Estive horas a tentar descobrir uma maneira de pôr a música aqui mas não consegui. Alguém tem de me ensinar a pôr um player aqui no blog....
O melhor que se arranja é trinta segundos... O que não é nada!
poe a musica no youtube, com umas imagens por trás... e poe aqui o filme
A letra do fado, ainda que falhe na métrica em alguns versos, é realmente uma letra muito boa para um fado. E gostei também da caracterização que fizeste da Joana Amendoeira. Nunca ouvi nada dela, mas agora pretendo, certamente, conhecer as interpretações desta fadista que nos canta "ao ouvido".
Isto das novas tecnologias é para mim um constante mistério. E como passo eu a música do cd para o computador? E como a transformo num vídeo???
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