quinta-feira, dezembro 21, 2006

Laicização, agora também do Natal




Assistimos constantemente a uma laicização, da sociedade e do mundo, feita por aqueles que consideram a religião, e tudo o que a ela se encontre minimamente ligado, como um dos grandes males do mundo. Karl Marx disse: ”A religião é o ópio do povo”. Era completamente doido. A função tranquilizadora e orientadora das instituições religiosas e das religiões em si, primeiro não é a única das suas muitas funções, e depois não é de todo negativa, antes pelo contrário, funciona como um factor de agregação e de identificação na procura de um fim comum – Uma sociedade melhor e mais justa. A exclusão do papel importantíssimo da Igreja Católica Romana, porque é esta confissão a quem tem realmente em Portugal uma expressão significativa e um significado histórico insubstituível, não será, ao contrário daquilo que muitas pessoas pensam, uma acontecimento positivo para o aperfeiçoamento da nossa sociedade.
Porque é significado de modernidade, o uso indiscriminado do argumento da “tolerância” para acabar com todas as demonstrações e sinais públicos de uma religião, ou mesmo de uma qualquer convicção. É a Liberdade de Expressão Vs igualdade e tolerância (ambas entendidas pela maioria num sentido impróprio, levadas ao extremo). Sinceramente, não sou contra nenhuma outra confissão religiosa, nem contra o ateísmo, apesar de achar este último desprovido de razão de ser, pois está diante dos olhos de quem está disposto a ver a existência de algo superior a nós, algo anterior a todas as coisas. Mas é ridículo que usando ignorantemente do argumento: -“Não queremos ofender outras sensibilidades!”, se tire da vida pública qualquer expressão do verdadeiro significado do Natal. Sim, o natal entre nós não é uma qualquer festa pagã, mas sim a celebração do nascimento de Deus feito Homem que veio ao mundo para nos salvar e morrer por nós. A nossa festa, em sintonia com a exaltação de todo o céu, pelo nascimento daquele que veio para nos salvar, revolucionando todo o mundo a partir do coração de cada um! A celebração desse Verbo feito homem, adorado por todos dos mais simples aos mais poderosos, nas condições simples do seu nascimento, é a verdadeira razão da existência do dia de Natal. Ou por acaso acham, que deve ser apenas mais uma desculpa para saciar o nosso consumismo desenfreado, mais uma desculpa para as lojas fazerem dinheiro, mais uma desculpa para todos tirarmos umas férias??? O Natal não é isso. Nem sequer é uma desculpa, para sermos mais caridosos ou mais capazes do perdão e da reconciliação; isso são qualidades que deveríamos exercer durante o ano todo, não pode ser só no Natal que nos lembramos do amor que temos para dar. O Natal é um dia de festa Católico, e assim se deveria continuar a preserva-lo, sob pena de perder o valor do seu significado, e se tornar em mais um dia vazio desprovido de qualquer valor, um entre outros tantos desta sociedade superficial. Que sensibilidades estaremos a ofender, se dissermos claramente – É isto que o Natal é, é assim que deveremos celebrá-lo. Quem não é católico, que se renegue à não celebração do Natal, à celebração do mesmo na sua forma pagã, ou pelo menos à não interferência ou obstrução à festa que este dia merece, pela proclamação do seu significado.
Notei neste triste acontecimento quando reparei, que já não existem quase cartões de Bom Natal nas papelarias com motivos religiosos, que substituíram os desejos de “Bom Natal”, tanto nos letreiros como nos cartazes e até cartões de Multibanco, por desejos de “boas festas” (em inglês, “Merry Cristmas” pela futilidade do “Happy Hollydays”), e finalmente, mas não menos grave, a ausência de todos e quaisquer motivos religiosos das iluminações de Natal Públicas (com excepção das fachadas de algumas igrejas, que negociaram essas iluminações a muito custo com a nossa desrespeitosa autarquia). Todas estas coisas são inaceitáveis!!! Estaremos nós a renegar as nossas tradições, as nossas raízes e o peso de séculos de história, apenas para apaziguar alguns “tolerantes” sôfregos e ignorantes, eles próprios uns intolerantes na sua vendetta por forçar a igualdade entre todos, sem se aperceberem que o valor da igualdade não está na procura da igualdade de facto, mas sim na preservação da diferença naquilo que é efectivamente diferente, e no tratamento justo e análogo daquilo que é semelhante… A realidade que têm de aceitar necessariamente, é que não somos todos iguais. É, simplesmente isso. Mais importante que o direito à igualdade é nos nossos tempos, o direito à diferença e à sua livre expressão, seja em privado seja publicamente.
Na realidade, os extremistas são aqueles que querem restringir qualquer sinal exterior das crenças legítimas de cada um (neste caso da maioria da população portuguesa), como aconteceu no infame episódio do véu em França. Quanto mais despirmos a sociedade dos seus valores, mais retrógrados seremos, não o contrário. E estas atitudes irresponsáveis, terão impreterivelmente de ser corrigidas caso contrário, as consequências é no nosso futuro que se reflectirão.
A única coisa que conseguem é, desagregar mais esta sociedade já de si apática e em crise, e incentivar a ira daqueles que se sentem profundamente ofendidos por estas decisões injustificadas e elas sim, verdadeiramente discriminatórias e vexatórias. Levando apenas ao aumento da intolerância e do extremismo, devido à revolta que provocam inevitavelmente no seio das comunidades religiosas. Ora exactamente o contrário, daquilo que diziam pretender alcançar… Não é irónico o Mundo e falsas as aparências das suas sociedades?

(imagens cedidas, dos poucos cartões de santo Natal que encontram, com os verdadeiros motivos do Natal em http://webcard.universocatolico.com.br/gallerybrowser.php?cat_id=4)

2 comentários:

Anónimo disse...

Não deixo de concordar contigo em muito do que dizes. mAs acho que a laicização do Natal, salvo algumas excepções ridículas (como a substituição do Merry Christmas por Happy Holiday, ou aquele caso em Espanha em que numa escola primária não foram colocadas decorações ou mesmo os teatrinhos de Natal para não ferir os de outra confissão religiosa), não está ligada à acção estatal
O Natal já não é o que era faz muito tempo. basta pensares que a principal figura do Natal é um velho de barbas, inspirado numa tradição russa, o qual a Coca-Cola vestiu de vermelho para promover a sua marca. A principal decoração das nossas casas não é o presépio, mas antes um pinheiro nórdico enfeitado com bolas coloridas, que embora seja bem bonita enquanto elemento decorador, nada tem de tradicional. O prato principal à nossa mesa está cada vez mais a virar para o perú e a fugir do bacalhau. As rabanadas, mais ano menos ano vão ser substituídas por apenas uns ferrero rochers...
A "culpa", se é que ela exista, é certamente do capitalismo desenfreado que tudo rege. Nada melhor que aproveitar uma época em que as pessoas se reunem em família, para as "obrigar" subtilemnte a comprar presentinhos, nem que para tal se tenham que endividar com os famosos créditos por telefone dinheito na mão! com juros a 33% (que simpatia!!!!!!).
As decorações de Natal nas ruas não são cristãs por algum tipo de cabala política, mas sim porque aquilo que te estimula a comprar não é certamente uma imagem do nascimento de Cristo. Para além de que quem paga as decorações são os comerciantes e não a câmara...
O que se torna mais ridículo (e digo-o sem te querer criticar, pois seria totalmente hipócrita) é que passaste provavelmente, tal como eu, umas boas horas nos centros comerciais neste últimos dias à procura de prendas...

Thomaz Vaz disse...

Caro rui, primeiro gostaria de agradecer o teu comment, espero que continues a comentar mais posts e a expressar a tua bem vinda opinião (antes todos os nossos leitores seguissem o teu exemplo), em segundo lugar permite-me que te responda. É verdade que perdi algum tempo a comprar presentes de Natal, no entanto isso não é contraditório com o espírito do Natal cristão, só o é na medida em que cada um de nós, em vez de querer simplesmente demonstrar o afecto por alguém oferecendo-lhe um presente, põe essa oferta em primeiro lugar na significância do Natal. Não é impeditório para uma correcta celebração do Natal dar e receber presentes, antes pelo contrário, quando são dados e recebidos do fundo do coração como provas de amor e respeito, são eles próprios simbólicos de sentimentos louváveis e que se podem reconduzir aos ensinamentos de Cristo e a toda a simbologia do seu nascimento, por exemplo na entrega das oferendas dos reis magos e de todos os que foram adorar o menino. Já é antagónico com esse espírito, a redução do Natal a esse mesmo acto de entrega e recebimento, quando tudo o que interessa para nós não é demonstrar o nosso amor por alguém e celebrar o nascimento de Deus filho, absorvendo-nos do seu espírito, mas dar por dar e receber por receber. Dando mais importância ao objecto que damos ou recebemos, em vez de nos debruçarmos sobre o real significado desse mesmo acto percebes? Como se costuma dizer, não é o que se recebe que é importante mas sim a intenção… o problema é que devido à forte ligação com o mundo material, a maior parte das pessoas têm efectivas dificuldades em viver segundo esta máxima, transformando o Natal em mais uma época de consumo louco, uma época de invejas, ressentimentos e exibicionismo.
Quanto à interferência Estatal estás em parte enganado. Muitas das medidas ditas “Eliminadoras de intolerâncias” vêm do Estado, como o demonstram os exemplos que deste. E a questão é mesmo essa, se não é o Estado a dar um exemplo de protecção do Natal tradicional e cristão quem o dá? Se o Estado procura a todo o custo esvaziar o Natal de significado, porque razão não hão-de fazer o mesmo, as restantes instituições ou membros de uma sociedade? Sabes tão bem como eu que o exemplo parte do Estado e da sua legislação, pois é a máquina estatal e o seu comportamento a bitola de toda a organização de uma sociedade. Quanto às iluminações, se algumas delas são pagas pelos comerciantes outras não, e os seus motivos por uma questão de organização e planificação pertencem sempre às autarquias. Falei com uma pessoa que esteve a negociar as iluminações das Igrejas, e sei o quanto foi difícil arranjar iluminações com motivos religiosos. Foi a nossa autarquia, estes néscios que elegemos, que escolheram os motivos de decoração de toda a nossa cidade, sendo que em alguns sítios ou não há comerciantes para pagar as iluminações ou eles não sustentam o custo total das mesmas. Compete mais à câmara usar dinheiros públicos e o seu poder discricionário, para ajudar a preservar a nossa identidade e o significado do Natal que celebramos (o Natal Cristão), ou antes atrair clientes para as lojas e promover o consumo? O consumo infelizmente já é demasiadamente promovido, a cultura, identidade e valores é que não o são. E com isso não se preocupa este nosso estado. Se o importante é atrair as pessoas ao consumismo, e não celebrar verdadeiramente o Natal, então deixa de ter qualquer significado este dia, porque não passará de mais um dia igual aos outros nesta sociedade decadente!