terça-feira, janeiro 16, 2007

Aborto

Contrariamente ao que meu colega Thomaz Vaz disse anteriormente penso que a questão do aborto tem toda a legitimidade uma vez que é uma realidade para muitos; por isso durante a passada semana ouvi opiniões dos mais diversos tipos de pessoa, com os mais diversos tipos de crença, estatuto e ideais; li textos, panfletos e mesmo livros; vi debates e neles participei e pedi a colaboração de uma amiga (Matilde) para tornar este post o mais real possível. Porque é como cidadãos que somos chamados a votar e, aos olhos da lei, somos iguais não importa o partido ou a religião a que aderimos.
Uma vez que a opinião dos homens é muito desvalorizada nesta questão, eu, mulher, vim deixar a minha opinião e a de várias mulheres como eu. Desde já peço desculpa pela extensão do texto mas não há nada que considere pouco ou nada importante de referir.
Primeiro é importante esclarecer que casos excepcionais como violação ou mal-formações do feto já estão previstas na lei, são legais no nosso país , facto que ainda muitos parecem desconhecer. Logo, não é essa a questão e por isso mesmo não é altura para expressar a nossa opinião sobre isso.
A questão à qual somos chamados a dar opinião é “Que legitimidade temos nós de matar alguém indefeso?”; alguém sim, desenganem-se aqueles que o consideram “uma coisa”, como todos nós o bebé já tem coração para sentir, mãos para lutar e pés para percorrer a vida que lhe querem roubar. Então qual é a diferença entre um homicida e uma mãe que mata o seu próprio filho?
Há várias décadas talvez se considerasse o argumento de falta de condições, do “aconteceu”; mas hoje, com tantos metódos contraceptivos? Desde quando é que o capricho de não usar preservativo e o de manter a “bela vida” são suficientes para matar por pura comodidade? Um dos maiores problemas é que toda a gente, hoje, tem acesso à informação apenas não a quer usar e depois do erro feito recorrem ao aborto como metódo contraceptivo descarregando no ser que não tem culpa alguma! Outro argumento comum é que a vida da criança seria horrível, e eu pergunto porquê? Quem diz que o filho de pessoas toxicodepentes tem mais hipóteses de o ser que o de uma pessoa abastada, que qualquer um de nós? Ainda há dias uma criança de uma instituição ganhou uma bolsa para Oxford; porque é que não damos a oportunidade da criança traçar o seu rumo? Será melhor morrer que viver sem condições, mesmo que um dia as alcance? E se não há realmente condições o aborto, conhecido pelo seu custo elevado, é pago por quem?
Uma fachada total é dizer que as mulheres vão presas sem que um único caso tenha ocorrido no nosso país. Outra, que se defende o direito à maternidade mas será que não é também um dever? O dever de respeitar aquele ser que entrega o seu destino, em plena confiança, em quem o gesta, que confia no mundialmente conhecido “amor de mãe” inigualável a qualquer outro, que confia naquela ligação tão estreita entre dois seres.
Embora tenha mostrado uma opinião pelo não, não significa que não compreenda todas aquelas que já o fizeram ou pensaram fazer! Toda a gente vos abandonou: o rapaz que vos meteu nesta embrulhada, os pais de quem esperavam amor ou pelo menos apoio incondicional, os amigos que ainda pouco podiam ajudar..e mesmo que o rapaz fique convosco o que será de vocês? Do curso que iam tirar e da profissão que iam ter? Embora ninguém diga que a criança não possa ser entregada a outros pais depois de nascer! É apenas deixá-la nascer, ter respeito por ela!
Quem decide fazer um aborto apenas o passaria a fazer à luz do dia mas ficaria na mesma com terríveis sequelas que tornam esse pesadelo notável e é este é o único argumento plausível para a despenalização: a diminuição das sequelas para a mulher, pelo menos as físicas..
Se o aborto for legislado é certo que não estamos a obrigar ninguém a fazê-lo porem a história de outros países mostra que a taxa de abortos sobe não só no primeiro ano mas constantemente! Se eu legalizar o roubo ou o homicídio, não estou a obrigar ninguém a roubar nem a matar mas não é certo que cresce a taxa de assaltos e homicídios?
Em ultimo lugar mas não menos importante penso que todos os que votarem não no próximo dia 11 de Fevereiro devem estar dispostos a patrocinar, e não só monetariamente, instituições de ajuda a todas as mulheres que delas precisarem para criar os seus filhos quando toda a gente lhes voltar as costas ou para os deixar para serem criados com amor.

4 comentários:

Anónimo disse...

ah

Thomaz Vaz disse...

Querida colega, o que eu queria dizer era que as acusações do Rui não eram legítimas, não me referia à questão do Aborto em si. Que como já disse, e volto a afirmar, deve ser alvo de profunda reflexão da parte de todos nós... E este blog a isso se dedicará, enquanto for necessário! Mas fica a tua lúcida opinião que transmitiste, de uma forma como sempre brilhante. E talvez desta forma, se acabe com o mito de que não há mulheres inteligentes a defenderem a vida... Porque a questão não diz só respeito à liberdade das mulheres mas, o que muitos querem escamotear, à dignidade da vida Humana desde o primeiro momento!

Thomaz Vaz disse...

Tens sempre melhores imagens que eu...Não é justo!

Anónimo disse...

É sempre bom contactar com a opinião de mulheres que têm a coragem, porque quem tem coragem não são aquelas que lutam pela "liberdade de escolha" mas aquelas que têm a coragem, para se assumir como defensoras da vida, e do NÃO!