terça-feira, janeiro 30, 2007

Coerência


O texto do Thomaz sobre a “ grande caminhada pela vida” dá o mote para o meu novo post.
Pessoalmente discordo do Thomaz quando ele acusa o Presidente da República Portuguesa de “falta de coragem por não comparecer a esta manifestação”.
Cavaco Silva tem o direito, mas não o dever de expressar a sua opinião e, como presidente de todos os portugueses não deve participar em nenhuma manifestação que represente posições de alguns. Cavaco para o bem e para o mal é o presidente de todos nós, não de alguns, dos que votam “sim”, dos que votam “não”. Como cidadão pode muito bem expressar a sua opinião pessoal mas não pode participar em qualquer tipo de campanha; ele representa- nos a todos.
A partir do momento em que são eleitos tanto Cavaco como Sócrates deixam de poder falar no cidadão José e no cidadão Aníbal, eles são Primeiro- Ministro e Presidente da República em toda e qualquer situação.
Ora era aqui que eu queria chegar: à actuação/comportamento de Sócrates em toda esta campanha. Se Cavaco é o presidente de todos nós que razão haverá para Sócrates não ser o primeiro- ministro de todos nós?
Sócrates não pode ter só em atenção o plano partidário, o plano de Estado no seu caso é fundamental, a suas mais recentes acções mostram falta de integridade e de bom- senso.
O mesmo se passa em função de alguns ministros do seu governo que de forma vergonhosa tem participado pelo “sim”. Esta situação já não é nova pois já tínhamos ouvido alguns destes imbecis tecendo os mais bárbaros ataques e acusações a Cavaco Silva aquando das eleições para as Presidenciais de Janeiro último. Imagino as suas caras quando souberam da vitória de Cavaco.
Estes senhores (Sócrates e ministros) têm de mostrar uma isenção cega limitando- se a expressar a sua opinião, e nada mais do que isso. O facto de entrarem em campanhas revela uma total falta de respeito por aqueles que deles têm uma opinião contrária; teriam o mesmo impacto na comunicação social e junto da população se não fossem ministros? É óbvio que não.
Os titulares de cargos de estado tão importantes como estes devem mostrar distância e independência em relação a estas questões, não se sujeitando a estes tipo de críticas, são situações que podiam perfeitamente evitar, se revelassem coerência e discernimento; gostariam eles de ter por exemplo Cavaco a fazer campanha pelo “não”? Nem eles nem ninguém. Que imagem daria o país se tivesses Cavaco em campanha pelo não ao almoço e Sócrates da parte da noite?

7 comentários:

Thomaz Vaz disse...

Se calhar não me fiz entender bem. Cavaco Silva tem como português, como ser humano, a obrigação e o dever de expressar a sua opinião neste referendo. E porquê? Trata-se não de um simples expressar de opinião, mas de uma tomada de posição na defesa da vida humana, na defesa do valor mais essencial da nossa sociedade e de toda a existência humana. É este o cerne da questão. E dessa responsabilidade, nem eu nem Cavaco Silva nos podemos esquivar! Ele é o presidente de todos os portugueses é verdade, mas por isso mesmo têm o dever de participar na campanha, não por uma qualquer demonstração de opinião, mas na defesa do maior entre todos os valores, valor esse aliás consagrado na Constituição da Republica Portuguesa, que esse Sr. jurou defender.
Por estas e todas as outras razões, por este não ser um referendo partidário mas de consciência, por todas as outras figuras do panorama político nacional já terem expressado a sua posição, reitero a minha acusação ao nosso presidente e espero que ele tome uma posição, uma posição de força uma posição de coerência, uma posição verdadeira… O que não fez, quando tinha o dever de rejeitar a proposta desta consulta popular, como já explanei noutro meu post.
Não podias estar mais enganado, caro Salvador.

Mariana Mar disse...

Concordo plenamente de o dever de representar todos nós tem de ser imperativo, desvalorizando o de cidadão comum

Salvador da Cunha disse...

Thomaz. Fizeste- te entender muito bem, mas discordo plenamente de ti quando dizes que a decisão de Cavaco não expressar a sua opinião revela “falta de coragem”.
Cavaco pode muito bem defender a vida humana sem entrar em qualquer acto de campanha, sem nela se envolver. Acho que exageras (e muito), quando o acusas de falta de coragem. Imagina que Cavaco se envolve pela “Não” e que o “Sim” ganha. Teríamos um presidente derrotado, um presidente enfraquecido á mercê de inúmeros ataques e críticas, penso que a sua opinião podia muito bem ser expressada de uma maneira calma e serena, não entrando em qualquer campanha; a mensagem seria passada á mesma e não se sujeitaria a ataques e/ou críticas.
Dizes que “não de um simples expressar de opinião, mas de uma tomada de posição na defesa da vida humana, na defesa do valor mais essencial da nossa sociedade e de toda a existência humana”. A tomada de posição do P.R pode ser feita apartir de uma declaração para as televisões, de um artigo no jornal, de muitas as maneiras possíveis, mas escusa de a fazer até á exaustão, participando em actos de campanha. Como Cavaco ainda não a expressou é legítimo pensar no seguinte: imagina que Cavaco era a favor do “Sim”, acharias correctos que participasse em campanhas apelando ao voto no “Sim”?
Referes-te no teu comment á questão da constituição, quanto a isso tens toda razão pois está lá bem explícito no artigo 24.1 que “a vida humana é inviolável”, mas isso já lá vai e não há nada que possamos fazer. Acontece que não é isso que está aqui em questão.
Dizes também que é “por este não ser um referendo partidário mas de consciência, por todas as outras figuras do panorama político nacional já terem expressado a sua posição, reitero a minha acusação ao nosso presidente e espero que ele tome uma posição, uma posição de força uma posição de coerência”. É por políticos terem feito valer o seu pensamento que o P.R o tem de fazer? Quando á consciência lembra-te de que ela é um valor particular e não universal, a tua não é a mesma que a da “x” ou “y”.
Penso que tu é que te enganaste, confundiste e exageraste

Thomaz Vaz disse...

A resposta está acima

Anónimo disse...

Mas o Sócrates só está a participar como Secretário Geral do PS e não com PM.

Salvador da Cunha disse...

E se Cavaco quisesse participar como cidadão comum?
Se Cavaco não se envolve8por senso comum) porque é que se aceita que José Sócrates o faça? Têm os dois os mesmos deveres no exercício dos cargos que ocupam, é aceitavél que num dia seja Primeiro- Ministro e no outro líder partidário?
Quando as pessoa o veêm em campanha pelo "Sim", será que conseguem destinguir que ali está José Sócrates líder partidário do P.S e não José Sócrates, Primeiro- Ministro de Portugal?
É óbvio que não, porque dada a sua posição na hierarquia do estado português estes dois cargos estão ligados através dele.

Anónimo disse...

Uma das funções mais importantes de um presidente da república é representar o seu país. Ele, através da sua pessoa, torna-o presente aonde quer que vá. É por isso fundamental, que sobre ele recaia a maior unanimidade possível. Quando são debatidas questões fracturantes, como é a do aborto, o presidente deve, como é óbvio, abster-se da sua opinião pessoal, porque quando se candidatou, renunciou a esse direito. Participar numa manifestação com conotações partidárias (CDS e PNR) era desrespeitar completamente os portugueses que são partidários da outra facção, da qual têm legitimidade democrática para o ser.

P.A.